Urgueira Milagreira
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Em 1904 o forno da Urgueira esfriou depois das zaragatas com a família do desgraçado de Macieira de Alcoba que desafiou a crença e o milagre da Urgueira, imitando o “santo homem” que vinha dos lados de Tomar e entrava no forno para meter o pão que a Senhora da Guia haveria de benzer. Ficou com o cabelinho mais encarapinhado que um preto, com as orelhas crestadas e os pulmões em brasa, indo a mitigar a dor na mina de água gelada ao cabo da Urgueira e morreu uns dias depois; pneumonia! disseram os médicos… castigo divino! falou-se pelas aldeias serranas.
Em 1996 a Associação Etnográfica os Serranos re-ergueu a festa, com uma enchente de povo que ainda hoje se lembra, iniciando um festival de folclore que serve de modelo a tanta coisa nova que vai acontecendo de norte a sul de Portugal, dentro do folclore federado.
Sem automóveis, sem palcos e sem aparelhagens sonoras, o Festival-Romaria Milagre da Urgueira é uma romaria do século XIX e quem lá vai entra na máquina do tempo. A obra foi crescendo, ano após ano, com ajuda da população local, das autarquias de Macieira de Alcoba e de Águeda e de muitas outras entidades, com o parque da Senhora da Guia e tornar-se numa infra-estrutura que é usada durante todo o ano. O forno foi recuperado e, desde 1999, todos os anos é aquecido e coze pão que corresponde à lenda: não apanha bolor e dá confiança crente a quem possui um dos seus nacos.
NOVO MILAGREIRO
O próprio presidente da direcção da Associação Etnográfica Os Serranos tem sido o milagreiro de serviço, que vai dentro do forno para meter e para tirar o pão, enfrentando o braseiro aquecido durante dias e noites e que pode chegar a cerca de 300º. Começa a ser altura de cuidar da continuidade e, no passado dia 21, foi outro colaborador de Os Serranos que enfrentou a fornalha; António Martins, o Arouca, com o peito cheio de ar, a serenidade nos olhos e o cravo na boca, entrou no forno para meter a broa grande de mais de 70 kg e voltou mais tarde para a tirar.
Em 2003, Manuel Farias afirmava que a política aguedense queimava mais do que o forno da Urgueira; em 2011, o Arouca diz: “…está tudo bem. Cuidava que o bigode ficasse chamuscado… mas ficou inteiro. Talvez mais ruço.” O acordo entre os dois está firmado: entrarão no forno em anos alternados, fazendo a passagem do testemunho entre gerações.
MISSA MULTICULTURAL
A missa dominical celebrada por Monsenhor João Gaspar, da diocese de Aveiro, voltou a juntar cerca de um milhar de romeiros que naquela hora já se espalhavam pelo imenso parque, entre o colorido dos grupos de folclore que iam chegando. Alguns destes alternaram vez com o coro paroquial de Macieira de Alcoba, levando cantares da tradição para a devoção do santo sacrifício. A procissão da Senhora da Guia, entre a ermida e o forno, foi a acompanhada com a vibração das gaitas asturianas e, no final, o Grupo de Folclore da Srª de Guadalupe, da Maia, apresentou uma saudação mariana à Senhora da Guia, com canto e dança e um remate final com pétalas de rosas, enternecendo todos os presentes.
FESTA E CHUVA
Depois do jantar dos romeiros com rojões, bacalhau frito, chouriça, ovos, azeitonas e pão do forno da Urgueira, veio a festa que irradiou das três eiras e vez vibrar todo o parque, acordando os romeiros da sesta e os batoteiros das cartas. Eram oito grupos de folclore que entravam no despique da animação; estavam lá os representantes de tantas regiões: Galiza, Astúrias, Minho, Douro Litoral, Beira Alta, Beira Litoral, Templários e Ribatejo. Já dançava o povo com os grupos, quando a chuva se juntou à festa, aí pelas 16:30. O ânimo arrefeceu com os primeiros chuviscos, mas ainda sobrou para retomar durante cerca de meia-hora mais, até que a chuva trovejada se instalou no cabeço do Junqueiro para o resto da tarde. Trouxa arrumada até ao ano.
O Festival-Romaria Milagre d'Urgueira tem o apoio da Câmara Municipal de Águeda.