30 de Abril e 1 de Maio :: BELTANE: Festival Céltico em Belazaima do Chão
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A Associação Etnográfica Os Serranos vai recuperar em Belazaima do Chão, nos dias 30 de Abril e 1 de Maio, a celebração da festa céltica da fertilidade: Beltane.
A festa céltica da fertilidade - Beltane - fazia-se por toda esta região até há cerca de 1500 anos atrás, com fogo, flores, música, danças, muita comida e bebida. Como sortilégio da fertilidade nas terras e na mulher, o BELTANE era dirigido ao deus Belenos, no que respeita às forças vitais da natureza, mas essencialmente era feito com o apelo à energia humana e ao mais intenso dos convívios entre vizinhos. É esta celebração que a Associação Etnográfica Os Serranos vai recuperar em Belazaima do Chão, nos dias 30 de Abril e 1 de Maio, enchendo o Parque e Auditório do Moinho de Vento com muitas centenas de amantes da música e da cultura celta. Desde Ferrol, na ponta da Galiza, até ao centro de Portugal.
Com dois períodos de espectáculo de palco (Sábado, 30, das 22 às 24 h e Domingo, 1 de Maio, das 15 às 17 horas), a primeira edição desta celebração recuperada na bruma do tempo, conta com seis grupos de música céltica, sendo 3 da Galiza e outros tantos de Portugal. De As Pontes – Ferrol, virá a banda MUXAREGA e logo abaixo da Corunha, o grupo de pandereteiras e mestres de dança MESTURAXES. De Xinzio de Limia (Ourense) chegam os enérgicos Jalos d’Antioquia, que há vários anos convivem com a Associação Etnográfica Os Serranos na Romaria Etnográfica Raigame, em Vila Nova dos Infantes (Celanova). A armada portuguesa de gaitas é encabeçada pelo excelente grupo SONS DA SUÉVIA (Braga) e inclui RONCOS E CURISCOS (Coimbra), para além da revelação ANTÓNIO – Gaiteiro de Portugal, semi-finalista no concurso Portugal Tem Talento.
Todavia, para além dos espectáculos de palco, é garantido um roncar permanente de gaitas debaixo do arvoredo do parque do Moinho de Vento em Belazaima do Chão, misturado com todo o género de acompanhamentos e puxando pelo cancioneiro popular galaico-português. Tudo sentido, tudo emocionado, gastando energia que passa para a criação da natureza e entusiasma a paixão. Para recompor, a Associação Etnográfica Os Serranos garante comida e bebida, no melhor espírito da cultura celta.
Para além dos ateliers de coroas de flores e de dança, o programa apresentará um interessante ritual de evocação da fertilidade, no encerramento do festival e as condições do local incluem espaço amplo para acampar, com instalações de banho e sanitárias ou instalar auto-caravana. Na passagem de Abril para Maio, quando os celtas se despediam da longa noite do inverno e saudavam a chegada do verão, Belazaima do Chão proporcionará aconchego e alimento cultural místico, em nome do passado, mas com os olhos postos no futuro.
OS CELTAS
Os celtas foram um povo de origem inicial nórdica, com identidade excepcionalmente forte, resultante do seu agrupamento em comunidades e apoiada em técnicas próprias de exploração agrária e pastoril, mas sobretudo no domínio da metalurgia do ferro. Ocuparam o centro do continente europeu, mas acabaram por se fixar nas frentes atlânticas do oeste europeu, nomeadamente da península ibérica, durante todo o 1º milénio aC, sendo os principais agentes da passagem da idade do bronze para a idade do ferro nestas regiões ocupadas.
As comunidades celtas eram aguerridas, trabalhadoras e, em simultâneo, divertidas e festivas, com uma religiosidade nativa e mística, orientada para a sustentação da natureza. Trouxeram os cereais para a península ibérica e multiplicaram a pastorícia, fixando-se nos povoamentos que hoje exemplificam a cultura castreja e os monumentos megalíticos ligados à mística e a necrópoles, no nordeste da península ibérica. Foram os celtas os primeiros a usar calças na indumentária masculina, inventaram a cerveja e fixaram uma calendarização de festas e rituais, em ciclo anual e fizeram da música uma expressão necessária.
Os lusitanos eram clãs ou tribos celtas, com a coesão e a força proporcionada pela sua identidade e pela cultura. As suas tradições lançadas e vividas entre nós há mais de 2500 anos, foram objecto de sucessivos ataques e aculturações, em particular pela romanização e, posteriormente de modo mais intenso e continuado, pela cristianização durante cerca de 1500 anos. Todavia, muitas das suas tradições e expressões culturais perduraram e permanecem identificáveis nos dias de hoje, com algumas evidências na nossa região: levantar totens e queimá-los (festa do pau), danças em volta de mastros com fitas que entrançam, celebração das maias, uso do fogo como sortilégio, gaita-de-foles, celebrações ligadas às forças da natureza, ainda que muitas destas tenham sido cristianizadas e reorientadas, tal como acontece com a festividade da Santa Cruz, no início de Maio, que é uma adaptação do Beltane céltico, deslocando a centralidade na mulher celta para o símbolo maior do cristianismo.
Os celtas apenas consideravam duas estações no ano (Inverno e Verão) e associavam-lhes respectivamente o espírito da noite e do dia, bem como o das forças da morte e da vida. Na entrada do Inverno (finais de Outubro) celebravam o Samhaim, convocando a presença dos familiares e vizinhos mortos e celebrando a sua presença espiritual, através de um ritual que viria a ser adaptado pelo cristianismo através do Dia dos Fieis Defuntos e pelo mercantilismo americano como dia das bruxas ou haloween. Na passagem para o Verão celebravam o Beltane, a festa da fertilidade e da sagração das forças enérgicas que a produzem: virilidade, fogo, alegria e floração.
BELTANE EM BELAZAIMA
É esta celebração que a Associação Etnográfica Os Serranos vai recuperar em Belazaima do Chão, nos dias 30 de Abril e 1 de Maio, recriando a festividade céltica do Beltane. O Parque e Auditório do Moinho de Vento irão acolher muitas centenas de amantes destas tradições e em particular da música de inspiração céltica. Haverá festival deste tipo de música, com grupos galegos e portugueses, no Sábado entre as 22 e a meia noite e, no Domingo, entre as 15 e as 17 horas. Pelo meio, Os Serranos organizam ateliers de construção de coroas de Maio, de dança galaico-portuguesa com inspiração céltica e juntar-se-ão dezenas e dezenas de tocadores de gaitas de foles, com presenças já confirmadas desde Ferrol a Lisboa.
A bebida e a comida não faltarão, tal como deve ser em qualquer festividade celta, que inclui a celebração do fogo e os rituais que incentivam a fertilidade, sempre fruto da paixão e convergência de energias.
A organização da Associação Etnográfica os Serranos conta com o apoio da Câmara Municipal de Águeda, da Junta de Freguesia de Belazaima e demais entidades, para além das parcerias como Centro de Recreio Popular de Belazaima e a Associação de Protecção Civil desta freguesia. Serão proporcionadas condições para acampamento no local durante este fim-de-semana, tornando Belazaima do Chão um destino frenético e vibrante de celebração das forças mais vitais e positivas que a natureza pode dar.
A Investigação d’Os Serranos
A Associação Etnográfica Os Serranos concluiu há alguns meses um processo de pesquisa das raízes célticas que se encontram presentes em muitas das manifestações etnográficas da nossa região, na actualidade ou num passado recente.
A generalidade destas manifestações atravessou o período da cristianização, nos últimos 1500 anos e foram sujeitas ao estigma do paganismo ou noutros casos foram adoptadas e reorientadas para rituais e práticas religiosas, tal como na festividade da Santa Cruz e na celebração do S. João. Entre outras, identificamos as seguintes práticas:
- Maias e Coroas de Maio;
- Fogueiras e sortilégio do fogo para esconjurar forças malignas e evocar a energia criativa;
- Totens e mastros revestidos com vegetação e queimados;
- Rituais de fertilidade com sacrifícios de animais e de colheitas;
- Rituais de sexualidade e enfeite generalizado das mulheres com flores;
- Danças com fitas em torno de árvores consideradas sagradas pelos druidas;
- Animação musical intensa, enfatizada pela abundância de bebida e comida;
- Inversão de usos, com perturbação das rotinas nos povoados.
Na nossa região, ainda se podem observar:
- Colocação de ramos de maias e de coroas de flores silvestres nos portais de entrada, trocados entre vizinhos ou aplicados pelos próprios;
- Fogueiras do S. João e esconjuros nos currais dos animais, com recurso frequente a brasas e a enxofre;
- Levantamento do pau em Assequins, revestido com arbustivos e queimado na noite de S. João;
- Festa da espiga;
- O enfeite com flores foi desviado da mulher para a Santa Cruz, por acção da cristianização;
- Alguns grupos de folclore da região ainda realizam danças com fitas entrançadas num mastro;
- As gaitas de foles ainda se preservam na região, apesar de terem sido destronadas nos últimos 80 anos pelos instrumentos de fole, sempre associadas a festa e animação de rua;
- Na noite do 1º de Maio (nuns locais) ou na noite de S. João (em outros), a rapaziada desvia carros de bois, alfaias agrícolas e outros objectos e amontoa-os num largo ou cruzeiro, obrigando os seus proprietários a recolhê-los no dia seguinte.
Com estas conexões, Os Serranos estruturaram a celebração do BELTANE (que os celtas dirigiam a Bellenos, deus do fogo e da energia fertilizadora), que congrega e demonstra a evocação da generalidades das manifestações etnográficas atrás descritas, posicionando-a em 30 de Abril e 1 de Maio, exactamente no tempo em que os celtas celebravam esta festividade, na passagem do Inverno para o Verão.
Programa
Sábado, 30 de Abril
15.00 Levantar Mastro
Atelier de Flores e Coroas de Maio
19.00 Jantar de Fogo
22.00 FESTIVAL CÉLTICO (parte I)
RONCOS E CURISCOS (30’)
MESTURAXES (15 ‘)
SONS DA SUÉVIA (30’)
ANTÓNIO GAITEIRO DE PORTUGAL (15’)
MUXAREGA (30’)
24.00 Ceia de Paixão e Fogo
Queimada e Esconjuro
Domingo, 1 de Maio
11.00 Atelier de Dança
Dança das Fitas na Árvore Sagrada
Danças Galaico-Portuguesas
13.00 Almoço Xavali
15.00 FESTIVAL CÉLTICO (parte II)
ANTÓNIO GAITEIRO (15’)
OS JALOS D’ANTIOQUIA (25’)
MUXAREGA (30’)
RONCOS E CURISCOS (25’)
SONS DA SUÉVIA (25’)
17.00 Ritual da Fertilidade
NOTA 1: Produção técnica em palco, a cargo de José Vilão.
NOTA 2: Ambiente permanente do parque com fogo, música, flores e paixão.
NOTA 3: Acampamento e parque para auto-caravanas
NOTA 4: Restaurante e bar permanente